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sexta-feira, 13 de junho de 2025 163o4y

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A UNIDADE NA SANTÍSSIMA TRINDADE: “DEUS É AMOR” (1Jo 4,8) 164j17

Ao refletirmos sobre a Trindade Santa com a luz da razão, não devemos esquecer que estamos diante do mistério de Deus: um único Deus em três distintas pessoas, igualmente divinas. Como é possível um só Deus em três pessoas? É famosa a ilustração artística de Santo Agostinho com o tratado da Santíssima Trindade em suas mãos e a criança na praia, tentando encher um buraco na areia com toda a água do mar. Interrogado por Agostinho, que lhe afirma tal impossibilidade, o menino responde sabiamente: “É mais fácil colocar todo o oceano neste buraco do que compreender o mistério da Santíssima Trindade”. Como se vê, não se pode desvendar o mistério, pois, se assim fosse, deixaria de sê-lo. Entretanto, é possível aproximar-se das verdades que cremos à luz da fé, também com a luz da razão — iluminada pela mesma fé —, para melhor compreendê-las. E ninguém como São João exprimiu tão perfeitamente a natureza de Deus, ao escrever em sua primeira carta: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8). Ora, o amor não é apenas um nome de Deus, mas é, sobretudo, a vida de Deus, que ama ativamente e incessantemente. Contudo, não se ama sozinho, e nem mesmo saberíamos o que é o amor senão amando. O amor é fruto de um diálogo, de uma relação entre distintas pessoas que se põem a amar. O movimento incessante de amor entre as pessoas divinas faz com que aconteça entre elas uma vida de comunhão: um amor operante, que não cessa; um amor ativo e não apenas conceitual; um amor que só existe porque está sempre em ação. É essa igualdade de natureza amorosa nas três pessoas divinas que as faz serem inseparavelmente um único Deus: eis a verdade joanina, “Deus é amor”. Contudo, porque só existe amor na relação com um “tu” que é amado, diante de um “eu” que ama, é possível não apenas provar que o amor existe, mas, sobretudo, nele participar. Quando a primeira pessoa divina ama a segunda pessoa divina e esta, por sua vez, responde ao amor da primeira, então essa perfeita relação entre as duas pessoas define suas distintas personalidades, ou seja, define cada pessoa: porque a primeira pessoa ama a segunda, sua personalidade é a de Pai, origem do amor. E porque a segunda pessoa responde ao amor da primeira, sua personalidade é a de Filho. O amor que circula entre as duas — Pai e Filho — é, então, a pessoa divina do Espírito Santo, o Amor, que, como professamos no Credo, “procede do Pai e do Filho”. É como numa família: embora seja uma, ela só existe quando há uma relação amorosa entre três distintas pessoas: pai, mãe e filhos. Todos estão unidos pelo mesmo motivo, o amor, mas é o amor que distingue a personalidade de cada uma das pessoas, conforme a relação que mantêm.

Por Pe. Ronaldo José Miguel, Reitor Seminário de Barretos.

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